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A CRIAÇÃO DO NARUTO
A CRIAÇÃO DO NARUTO

NARUTO: ANALISANDO A CRIAÇÃO

 De acordo com uma norma não-oficial praticada por muitos autores, o personagem é criado de antemão para ser popular. E depois se desenvolve o mundo que ele vive, de modo que ele seja funcional. Naruto foi criado para uma história fechada. Quando foi repensado para virar uma série, o personagem em si foi mantido intocado, mas todo um elenco foi criado do nada ? e por tabela, o mundo em que eles vivem…</span>

 

Naruto: Segundo o próprio autor, o tema básico da história seria o da aceitação. O personagem surgiu de forma boba: o autor gostava de Lamen. E o sobrenome Uzumaki era uma referência um tanto infantil às espirais que o Lamen forma no prato. De acordo com a filosofia editorial da Shonen Jump, os personagens devem ser nomeados de modo que os leitores possam associar uma característica ao personagem. Isso até explica o motivo do design da insígnia da vila da folha incluir uma espiral. Mas isso é imediatamente posterior a um dos mais importantes elementos do personagem: a raposa-demônio, que já nasceu na versão original e que, ainda segundo Kishimoto, surgiu por motivos práticos: a raposa é considerada um dos mais poderosos seres do bestiário mitológico japonês, e a Raposa de Nove Caudas, em especial, é a mais poderosa dentre elas. Assim ele seria produzido e já havia sido testado na história à parte publicada na Akamaru Jump. E era necessário alguém que o reconhecesse. Assim, o personagem a nascer em seguida foi Iruka, o primeiro mestre que Naruto conheceu ? e talvez o mais próximo de uma figura paterna que ele conheceria por muito tempo.

 

Naruto viria a ser modelado com o tempo. “Quando você fala sobre ninjas, invariavelmente fala sobre sapos.” No folclore japonês, sapos são animais mágicos, e o óleo de sua pele é um ungüento tradicional para ferimentos ? o que explica a ligação que apareceria mais tarde ? mas já foi pensada desde o começo. Tendo os dois personagens principais, seria importante desenvolver o cenário em linhas muito gerais (uma aldeia de ninjas no meio do mato). Ele precisaria de um chefe da aldeia. E assim nasceu o Hokage. Nascia também o gancho principal do personagem: Naruto um dia sonha ser o Hokage.Simples assim.

 

A Vila da Folha: feitos os personagens básicos, era a hora de estabelecer o cenário. Segundo Kishimoto, ele chegou a pensar em histórias de samurais ? mas não queria ter que competir em um mercado dominado por duas séries, naquele exato momento: Blade ? A Lâmina do Imortal e a reta final de Samurai X. Por contraponto, veio a idéia de fazer um cenário sobre ninjas. E, ao mesmo tempo, não exatamente o que se pensava sobre os mangás tradicionais de Ninjas ? até porque o próprio Kishimoto não engolia a idéia de um serviço de inteligência onde seus agentes se cobrem todo de amarelo.

 

Mas há mais: são raros os ninjas realmente conhecidos na história do Japão, aqueles que se tornaram figuras legendárias, comparando com a figura do samurai. É porque o ninja, antes de mais nada, é uma figura que faz do sigilo e da furtividade seu meio de vida. Ser um ninja perfeito é ser uma sombra, virtualmente invisível. Se um ninja é conhecido pelos seus feitos, ele definitivamente não fez um bom trabalho. E, por isso mesmo, levando em conta que o princípio básico do personagem é reconhecimento e respeito, seguir um esquema tradicional de ninjas entraria em contradição com o conceito e com os próprios interesses do personagem. O cenário seria contraproducente, e segundo as normas da filosofia “o personagem acima de tudo”, se há algo errado para o crescimento do personagem dentro do cenário, então, o erro está no próprio cenário. Era necessária outra abordagem.

 

E essa abordagem partiria assumidamente de suas memórias de infância: ele e o irmão cresceram em um ambiente rural, pacato e bucólico, mas próximo a uma base militar japonesa (os Estados Unidos providenciam a defesa do Japão desde a Segunda Guerra, mas há um corpo militar de oficiais no país ? a JSDF, Força de Auto-Defesa Japonesa). Os Ninjas na série funcionam mais como um corpo militar, com seu próprio modelo de disciplina. Livros sobre a Mossad e a SAS ajudaram o autor a compor a verdadeira natureza de seus Ninjas. Havia muitos campos de formação ? e daí nasceu um segundo elemento fundamental em Naruto: as equipes de três homens, padrão normal em termos militares.

 

Ficou patente que Naruto precisaria de mais dois companheiros e um mestre que o treinasse junto a eles. O mestre chegou primeiro, e foi assim que Kakashi veio a ser desenvolvido. Mas como havia parâmetros para a organização dos personagens, o trabalho, a partir desse momento, passaria a ser muito mais fácil.

 

Sasuke: uma vez acertado que haveria uma trinca, veio uma sugestão do editor Yagagi para que Naruto tivesse um rival. Segundo Kishimoto, ele adorou a idéia: ela o fez se lembrar de sua adorada série Dragon Ball ? e não chegou a ser uma dor de dente criar um personagem com esse perfil. Ironicamente, o próprio Kishimoto observa que o papel de Naruto seria mais próximo de Kuririn, que é a verdadeira fonte da rivalidade. Goku não via razão para rivalidades ? e, pensando bem, Sasuke, de início, também não. Naruto não era ninguém para ele… até que o personagem mostrasse ao que veio.

 

Mas havia mais. Naruto poderia ter a figura da raposa associada a ele, por isso a idéia de associar um sapo parece desnecessária. Mas o próprio Kishimoto aponta para a correlação entre ninjas e sapos. E há o mito da tríade da cobra, do caracol e do sapo na mitologia japonesa(Sansukumi), que analogamente à trinca “pedra-tesoura-papel” do jankenpo, funciona da seguinte forma: a cobra é mais poderosa que o sapo, o caracol é mais poderoso que a cobra, e o sapo é mais poderoso que o caracol.

 

E num dos primeiros desenhos, houve uma associação entre uma cobra e Sasuke, Naruto e um sapo e… um caracol à uma menina que viria a ser conhecida como Sakura.

 

Sakura: não há muito mistério quanto a ela. Uma vez que o conceito da trinca era baseado em um senso de equilíbrio (sugerido pela imagem do Sansukumi), e os personagens estão em extremos de capacidade e competência no começo da história, ela se tornou uma personagem mediana, mas potencialmente mais versátil do que ambos. Ironicamente, ela se tornou um elemento fundamental na caracterização dos personagens: a partir da sua rivalidade, ela passou a servir de foco para um triângulo amoroso. O que faz Naruto se mover em uma situação onde ele simplesmente não tem muitas chances…

 

Não deixa de ser curioso que ela é obviamente a razão pela qual foram criadas duas das personagens mais populares da série:

 

 Ino surgiu para dar uma rivalidade de verdade para alguém nessa história (porque, convenhamos, o dia em que Sasuke mostrasse algum sinal de masculinidade para a menina mais próxima que arrastasse um bonde para ele, e sabemos quem seria essa menina por mera questão lógica; Naruto, que nunca teve chance com Sakura, seria jogado para escanteio impiedosamente).

 

Mas ainda havia uma ponta a resolver nessa pequena armadilha de roteiro que poderia gerar uma bola de neve desastrosa.

 

Hinata: a bem da verdade, ela não passa de uma reação ao efeito colateral de algo inusitado ? o crescimento do eleitorado feminino na Shonen Jump.

 

Um dos fatores que mais surpreenderam nos últimos anos foi que, em recentes pesquisas de público no Japão, o público revelou que sua antologia favorita não era a Betsucomi, a Hana to Yume ou a Nakayoshi. Era a Shonen Jump. Terreno tipicamente masculino, supunha-se. E algumas séries, como Bleach, Prince of Tennis e Naruto atraíram uma grande fatia de leitoras. Kishimoto conta que 90% das cartas que lhe são enviadas são de meninas.

 

Foram essas meninas que deram gás à paixão de Sakura por Sasuke. E criaram uma situação inesperada e pouco confortável: o protagonista da série não tinha a menor chance, mesmo que o outro vértice da trinca pareça ter mais interesse em fazer pose na frente da câmera do que se perguntar se o sexo oposto existe. A solução tinha que ser executada de forma rápida antes que se criasse uma situação que deixasse um gosto muito ruim no eleitorado masculino ? que, afinal de contas, é o público-alvo principal da série. E no 39º capítulo do mangá, a solução veio: se apelou para um dos mais velhos clichês, a menina tímida que foi a única pessoa que gostou da gente quando todo o mundo parecia estar contra nós ? mas nunca notamos. Um clichê de apelo emocional imenso para qualquer homem que já tenha se sentido sozinho na vida. E funcionou perfeitamente.

 

No desenho animado, ela foi introduzida retroativamente logo no primeiro capítulo, para dar a entender que ela sempre esteve lá ? e, por tabela, aparecendo antes de Sakura. Cuidado extra, para deixar claro que Naruto tinha alguém no universo esperando por ele ? e preparando o espectador que não leu o mangá para a situação que viria se apresentar. Dor de cabeça resolvida, era a hora de deixar aquilo como um mero lastro para não prejudicar o andamento da história. Mexicanizações podem ser muletas muito sedutoras.

 

Jiraya, sapos e outros personagens:Jiraiya é um personagem posterior e o único inspirado em um ninja conhecido; é também o responsável para a inclusão oficial dos sapos na mitologia de Naruto, reforçando assim o conceito de Sansukumique viria a ser encampado por Sasuke com a entrada de Orochimaru na história. Do resto do elenco, por outro lado, não há muito o que dizer: quando se produz regular e periodicamente, usualmente os personagens surgem pela necessidade de uma história específica. É uma regra universal dos quadrinhos de massa.

 

Para terminar, há uma frase perfeita do autor que encerra tudo: “Criar um mangá não é apenas desenhar bem, mas escrever uma boa história. Mantenha a arte e os roteiros reais para os leitores, e você não tem como errar. E não deixe de ver os bons filmes de Hollywood. Aqueles que caminham contra a indústria de entretenimento estão apenas mantendo a mente fechada.” Definitivamente, ele sabe o que diz.